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ARTIGO DE OPINIÃO – HELENA FREITAS – COP30: desmascarar os bloqueios e exigir ação real

05-11-2025
Em novembro de 2025, Belém do Pará, no coração da Amazónia, acolherá a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP30). O lugar não é neutro: é o epicentro de uma floresta que regula o clima global e, ao mesmo tempo, uma das regiões mais ameaçadas pela desflorestação, pela exploração predatória e pela desigualdade social. Realizar a COP na Amazónia é um gesto político e simbólico: o debate climático no território onde se decide o destino do planeta.
Mas o simbolismo não basta. O mundo chega a Belém dividido, com emissões recorde e promessas incumpridas. A diplomacia climática vive uma crise de confiança, e os interesses fósseis continuam a ditar o ritmo da ação global. A COP30 será, por isso, um momento de verdade sobre o futuro coletivo da humanidade.
A crise climática é hoje uma evidência incontornável. Secas, cheias e ondas de calor extremo afetam todos os continentes e o tempo para agir esgota-se. O clima precisa de todos, mas sobretudo precisa de coragem política.
Mais de metade das emissões globais provém de empresas estatais sediadas em regimes autoritários. Das vinte maiores companhias de combustíveis fósseis do mundo, dezasseis são públicas e controladas por governos como os da China, Rússia, Irão e Arábia Saudita. Estes países tornaram-se o principal travão à descarbonização. A Rússia usa a energia como arma geopolítica; a China, responsável por cerca de 30 % das emissões globais, continua a construir centrais a carvão; o Irão e a Arábia Saudita financiam a dependência global do petróleo e bloqueiam sistematicamente o avanço dos acordos internacionais. Enfrentar esta realidade é uma exigência civilizacional.
Durante demasiado tempo, a diplomacia internacional preferiu o silêncio à verdade. Tratou por igual quem age e quem sabota, quem investe na transição e quem lucra com a destruição. Esse modelo está esgotado: não se vence uma emergência planetária com concessões a quem nega o futuro.
Mas a hipocrisia não é exclusiva das autocracias. Democracias como o Reino Unido, o Japão e o Canadá continuam a subsidiar combustíveis fósseis enquanto proclamam metas de neutralidade carbónica. Esta duplicidade mina a confiança global e fragiliza a liderança moral do mundo democrático.
A União Europeia deve abandonar a complacência e assumir o papel de força motora. É urgente aplicar de forma firme o ajustamento de carbono nas fronteiras, eliminar os subsídios ao petróleo e ao gás, e investir decisivamente na transição justa – dentro e fora de fronteiras. A diplomacia climática precisa de ser estratégica, transparente e corajosa.
A COP30 será um teste. Mais do que uma conferência, é a fronteira entre o discurso e a ação. O mundo precisa de recuperar a confiança na cooperação internacional e provar que ainda é capaz de convergir em torno do essencial: garantir um futuro habitável. A crise climática é também uma crise de desigualdade. Não haverá transição justa sem redistribuição de poder, de riqueza e de oportunidades. Combater a emergência climática é construir justiça social e regeneração económica. A humanidade precisa de decisões.
A justiça climática exige clareza, coragem e ação. Agora.

Helena Freitas
Professora Catedrática da Universidade de Coimbra, Coordenadora do CFE – Centre for Functional Ecology, UNESCO Chair em Biodiversidade.
Artigo originalmente publicado no Diário de Coimbra, 4 de novembro de 2025.
Artigo elaborado para o projeto “Desafios Globais para o Desenvolvimento”, implementado pelo 
Clube de Lisboa, a PCS e a UAL, com cofinanciamento Camões I.P.

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